Gente gira
Eu esperava encontrar em Harvard hordas de gente interessante, que tivesse viajado meio mundo ou que fosse mudar meio mundo. Até agora tenho encontrado, na medical school, sobretudo gente inteligente e super competitiva. Tirada kunderiana: O que é uma pessoa interessante? é uma pessoa que junta em si traços de carácter que me parecem contrários, e cuja fusão coerente me ensina alguma coisa sobre eles, que os alarga. Ou alguém também cujo carácter tenha aspectos tão refinados ou fortes que sai do ordinário. Resumindo, são pessoas que nos forçam a alargar o nosso horizonte da "possibilidade humana".
A vida na Universidade parece ser mais interessante do que na Medical school. Provavelmente o problema é meu que estou demasiado ocupado para aproveitar as talks, os eventos, as oportunidades diárias na universidade. Mesmo assim, eis algumas pessoas interessantes que conheci nas últimas semanas: um padre chapelão bioquímico, um campeão de pinball, uns jogadores de xadrez.
Encontrei o padre chapelão bioquímico no lançamento do livro "The plausibility of Life" (escrito pelo meu patrão M. Kirschner), que procura explicar com base em biologia celular e de desenvolvimento como a evolução produz necessariamente o tipo de especialização e diversidade que se vê. No contexto da promoção das teorias criacionistas por grupos cristãos mais ou menos fundamentalistas, perguntámos ao padre, entre dois queijos, o que ele achava da coisa. Disse ele: temos um coração e um cérebro, é preciso usar o coração e o cérebro (basicamente, dar a César o que é de César, etc) e portanto que não via contradição nenhuma entre a ciência (enquanto conhecimento fundamental) e a religião. Concordo perfeitamente, e seria interessante debater se no fundo, para quem é religioso, a fé não deverá necessariamente receber os avanços científicos fundamentais como parte de uma graça maior, a inteligência. [Sendo irlandês, o nosso padre ia bebendo e contou-nos a sua história. Começou com um PhD em harvard em bioquímica, onde encontrou uma proteina que bloqueava a proteina Tripsina e que por isso baptizou de Stripsin, para grande choque da sua tia freira.] O padre era: religioso, cientista, divertido, comilão, lúcido e irlandês. Podem tirar daqui os vários pares de contrários, hehe.
O campeão de pinball encontrei-o no aeroporto. Estava sentado escondido por detrás de um troféu de metro e meio, do campeonato nacional de ... pinball. Isso mesmo. Há gente para tudo. Com ele aprendi tudo sobre como preparar a "estratégia do jogo", e como dar porrada na máquina para ganhar pontos (é permitido, o pinball não é para fracos!). Thrilling! E para o ano há mais. Ok, este talvez seja um pouco nerd, mas quem não tem um cantinho nerd?
Os jogadores de xadrez jogam em Harvard Square, no café Au bon pain, de verão na esplanada e agora lá dentro. São todos homens, em geral de meia idade e têm o ar pesado de quem não tem a vida fácil. Alguns devem ser operários, vários são estrangeiros, os brancos estão em minoria. Também aparecem uns jovens intelectuais, ontem havia um a ler Marx (eu às vezes sigo os jogos quando lá vou tomar um café, e gosto de os observar). A princípio fala-se bastante, mas rapidamente eles deixam os jogadores concentrar-se. Os jogos parecem bons, pelo menos para mim. Estes tipos, alguns falam pouco inglês, passam alí horas numa actividade mental puxada, vários dias por semana; achei muito interessante, pronto. E com certeza se um dia me meter na fila para jogar, levo uma abada.
A vida na Universidade parece ser mais interessante do que na Medical school. Provavelmente o problema é meu que estou demasiado ocupado para aproveitar as talks, os eventos, as oportunidades diárias na universidade. Mesmo assim, eis algumas pessoas interessantes que conheci nas últimas semanas: um padre chapelão bioquímico, um campeão de pinball, uns jogadores de xadrez.
Encontrei o padre chapelão bioquímico no lançamento do livro "The plausibility of Life" (escrito pelo meu patrão M. Kirschner), que procura explicar com base em biologia celular e de desenvolvimento como a evolução produz necessariamente o tipo de especialização e diversidade que se vê. No contexto da promoção das teorias criacionistas por grupos cristãos mais ou menos fundamentalistas, perguntámos ao padre, entre dois queijos, o que ele achava da coisa. Disse ele: temos um coração e um cérebro, é preciso usar o coração e o cérebro (basicamente, dar a César o que é de César, etc) e portanto que não via contradição nenhuma entre a ciência (enquanto conhecimento fundamental) e a religião. Concordo perfeitamente, e seria interessante debater se no fundo, para quem é religioso, a fé não deverá necessariamente receber os avanços científicos fundamentais como parte de uma graça maior, a inteligência. [Sendo irlandês, o nosso padre ia bebendo e contou-nos a sua história. Começou com um PhD em harvard em bioquímica, onde encontrou uma proteina que bloqueava a proteina Tripsina e que por isso baptizou de Stripsin, para grande choque da sua tia freira.] O padre era: religioso, cientista, divertido, comilão, lúcido e irlandês. Podem tirar daqui os vários pares de contrários, hehe.
O campeão de pinball encontrei-o no aeroporto. Estava sentado escondido por detrás de um troféu de metro e meio, do campeonato nacional de ... pinball. Isso mesmo. Há gente para tudo. Com ele aprendi tudo sobre como preparar a "estratégia do jogo", e como dar porrada na máquina para ganhar pontos (é permitido, o pinball não é para fracos!). Thrilling! E para o ano há mais. Ok, este talvez seja um pouco nerd, mas quem não tem um cantinho nerd?
Os jogadores de xadrez jogam em Harvard Square, no café Au bon pain, de verão na esplanada e agora lá dentro. São todos homens, em geral de meia idade e têm o ar pesado de quem não tem a vida fácil. Alguns devem ser operários, vários são estrangeiros, os brancos estão em minoria. Também aparecem uns jovens intelectuais, ontem havia um a ler Marx (eu às vezes sigo os jogos quando lá vou tomar um café, e gosto de os observar). A princípio fala-se bastante, mas rapidamente eles deixam os jogadores concentrar-se. Os jogos parecem bons, pelo menos para mim. Estes tipos, alguns falam pouco inglês, passam alí horas numa actividade mental puxada, vários dias por semana; achei muito interessante, pronto. E com certeza se um dia me meter na fila para jogar, levo uma abada.
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