Friday, November 18, 2005

Americanices

Vejamos como corre uma viagem nos states. Se com isto se pensa que eu não conheço os states, desenganem-se. Eu conheci a vida americana suburbana, há 10 anos. Mas devo ter mudado entretanto, ou então mudou o país, que não o reconheço bem. É o que dá viver em Paris ...

Que nem um francês pimpão, eis-me aqui então a fazer a crónica pois claro um pouco crítica do meu novo país de acolhimento. Para isso nada melhor do que uma viagem de avião. Vê-se de tudo.

No aeroporto, o tipo da segurança pasma-se com a longura do meu nome, o que é normal. Mas depois pergunta-me se venho de Portugal, pois claro que sim, ah! diz ele (em português) eu sou de S.Miguel e vim para trás a semana passada!

Os tugas trucidam o português com requintes locais. Vindo de Paris França achava eu que tinha visto a fina flor da língua mal parlada, com os montar as escadas e as butelhas. Em Londres é o mesmo, com o yeah partout. Aqui, se descontarmos o sotaque extraordinário de S. Miguel, a marca do emigra tuga é o "épah, agora não posso, já te chamo para trás!" (par contre, eu não trucido o português, vou enriquecendo-o com expressões estrangeiras intraduzíveis e deliciosas).

Americanices irritantes:

No aeroporto, há televisões em todos os cantos e cafés a debitarem as últimas notícias, sobretudo do Iraque, onde novos ataques suicidas em mesquitas mataram mais dezenas de pessoas. Os nativos passam a vida ao telefone e a olhar para as TVs. Nas filas são tão irritáveis como os europeus, com a mesma mania irritante de mandar uns bitoques a queixar-se de n'importe quoi. No entanto, teem um sacré respeitinho às autoridades. Tenho a impressão que se for preciso despem-se ali mesmo, nos raios x. Tiram todos os sapatinhos, sem ninguém lhes pedir. Eu não tiro e não me adveio daí nenhum mal. É preciso ter um pouco de cabecinha, quand même, e não ter trabalho para nada.

"How are you doing today?" Ao princípio esta saudação surpreende. O viajante incauto olha em volta, sem saber se estão a falar com ele, será que conhece a senhora de algum lado. Depois habitua-se, e vai respondendo por politesse, muito bem obrigado, and you? erro crasso, que a senhora só quer é atender o pedido e não está à espera de perguntas que lhe fazem perder tempo, e o sorriso forçado. Finalmente, rompendo com os seus princípios, o nosso emigra responde imediatamente, com voz grossa e à americana, Fine, 2 cokes please! triste fado... Há uns empregados que relêem o menu todo, metade em francês ou italiano, e sem perceberem patavina do que dizem; há que dizer delicadamente que não ajuda nada! E depois, será que os americanos não sabem ler?

O que é irritante aqui não é só o sorriso forçado, bem chamado americano, mas o "today". É óbvio que a frase implica o today. Aí está um maneirismo feio, na minha opinião, e que se propaga por todo o lado, e talvez um dia transforme a língua inglesa. Estou muito preocupado...

"God bless your heart". Mas que lata, que tem a senhora a ver com o meu coração? quase lhe respondi: and bless your lymphatic system. Mas vi que a senhora me queria bem, e depois há que refrear a tendência nerd que vai surgindo, como quem não quer a coisa. Enfim, desde que não me venham com tretas destas.

Próximos episódios: boas americanices. o halloween, o thanksgiving, a multiculturalidade, a generosidade, as decorações de natal. (na rua acabei de receber um gluhwein e bolos de natal, as festividades abrem hoje!)

0 Comments:

Post a Comment

<< Home